Wednesday, November 11, 2015

Cenário para os próximos anos


O Fed (BC dos EUA) - especificamente o FOMC (COPOM dos EUA) - decidirá em dezembro/2015 se elevará a taxa básica de juros ou não.

Por que isso importa?

No curto prazo, uma elevação dos juros americanos intensificaria a depreciação da nossa taxa de câmbio, o que exigiria uma política monetária mais contracionária para conter a inflação já bastante acima do teto da meta, o que - por sua vez - aprofundaria a atual recessão.

Contudo, o longo prazo é ainda mais preocupante. Ao que posso observar, a persistência do Euro em existir, o fato de termos evitado uma crise do calibre de 1929 e a mitigação da febre política da austeridade fiscal podem ser atribuídos à Gang do M.I.T, cujo grande mentor é Stanley Fischer, atual vice presidente do Fed. Há rumores de que ele compõe o grupo a favor de elevar os juros, o que é algo estranho, dado que a inflação não mostra sinais de aceleração.

Está claro que o mercado financeiro prefere uma taxa de juros mais elevada, pois isso tende a elevar os seus spreads médios. Contudo, é desconcertante que o 'patriarca' dos economistas que têm mantido a economia mundial minimamente funcional esteja inclinado a ceder a essas pressões ou esteja sobre-ponderando tão grosseiramente a tímida melhora no mercado de trabalho dos EUA. 

Para piorar, se essa rachadura no último bastião que separa o mundo do Voodoo Economics (ou economia ultra ortodoxa, ironicamente o termo foi cunhado pelo Bush pai, durante a disputa contra o Reagan pela candidatura à presidência pelo GOP) se confirmar, isso ocorrerá diante de um cenário em que se constata que a recente austeridade fiscal foi mais prejudicial do que se imaginava e em que a estagnação secular se mostra cada vez mais provável.

Aguenta firme Fischer, seus ombros carregam muitas mais do que acadêmicos que desejam ver mais longe.

Atualização 1
Narayana Kocherlakota, chefe do Fed de Minneapolis até o fim do ano, é uma das únicas pessoas públicas no mundo intelectualmente honestas e cândidas o suficiente para admitir um erro no exercício da função
Kocherlakota, que era o maior opositor do estímulo monetário heterodoxo (QE) dentro do Fed, passou a ser o maior defensor da intensificação da mesma política. O que aconteceu? Observou os dados e constatou que a inflação não é uma preocupação em uma armadilha de liquidez. Simples? Deveria ser, mas o preconceito ideológico tem prevalecido sobre a evidência empírica, quando o assunto é política econômica.

Enfim, más notícias, Kocherlakota vai se abster da última reunião do FOMC em dezembro, pois deixará o Fed no fim do ano. Para piorar, será substituído por um Neel Kashkari, que sequer é economista (provavelmente nunca modelou um IS-LM-BP ou leu a Teoria Geral), é bastante alinhado ao pessoal do hard money e tem um estilo pessoal bem tacanho.

Atualização 2
Mark Thoma considera que, na cabeça do Fed, não há mais desculpas para não iniciar a elevação dos juros em dezembro/2015.

Segundo ele, os titulares do Fed tem a impressão de que o crescimento do PIB dos EUA já atingiu o seu potencial (2%).

Entretanto, o problema de o PIB superar seu nível potencial não seria a aceleração da inflação?

Pois é, só que o próprio Fed prevê que a inflação atingirá a meta (2%) apenas em 2018, sendo que a própria meta pode ser muito baixa. 

Então, por que arriscar um retrocesso na minguada retomada do crescimento dos EUA, com uma elevação prematura dos juros?

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