É sincero enunciar que o país encontra-se dividido em dois grandes grupos igualmente frustrados.
Vamos chamar o primeiro de classe média. Via de regra, composta por profissionais urbanos, cujo rendimento já permite ter uma moradia confortável e um carro atual, porém também é objeto de maior incidência relativa do imposto de renda e é despendido cada vez mas em saúde, transporte e educação – serviços que o setor público não provê com a qualidade desejada. É compreensível que – premido pelo trânsito, pela rotina de trabalho desgastante e pela onerosa tributação – esse grupo se veja frustrado.
O segundo grupo pode ser assinalado como ascendente. Como visto no post anterior, os 70% que auferem os menores rendimentos perceberam aumentos acima da média, de 2004 a 2012. Contudo, ainda que tenha ganhado participação, esse grupo ainda ganha menos que a média nacional, que já não é muita coisa – cerca de R$ 1.437 mensais, em moeda de 2012. Evidente que é percebida a melhora no padrão de vida. Ocorre, entretanto, que esse grupo pôde vislumbrar e almejar um patamar de consumo mais elevado, que – ao mesmo tempo – torna-se mais próximo e permanece ainda fora de alcance. É natural que – ainda penalizado pelo transporte público de má qualidade, por longos deslocamentos da casa ao trabalho e pelo acesso precário ao atendimento médico e à educação – esse segundo grupo também se sinta frustrado.
Em um campo onde a frustração é abundante, não raro frutificam as neuroses sociais, a exemplo das ditas ideologias, como mecanismos de defesa. Contudo, as ideologias e outras neuroses turvam a análise da realidade social e nos distanciam de uma solução que satisfaça as necessidades frustradas, conforme descrito em ‘Understanding Ideology’ de W. F. Morris:
Ao prejudicar o diagnóstico da causa da frustração, a ideologia impede que ela seja endereçada e – muitas vezes – resulta em comportamento agressivo incapaz de servir qualquer propósito, como também sugere o sobredito autor:
Dois exemplos vêm à mente. Um é a raiva demonstrada por aqueles que tentam associar a corrupção – endêmica ao país – a um único partido, o que é mais recorrente entre os que subscrevem às ideologias de direita. No entanto, isso implica ignorar – por exemplo – que, no seio da CPI do tão mencionado ‘Petrolão’, PT e PSDB escolhem quem investigar, abrem mão da quebra de sigilo bancário e fiscal, de maneira bastante conveniente para ambos os lados.
Outro é a tentativa de pintar o PSDB como exterminador do ‘bolsa família’, quando a avaliação mais lúcida aponta para a inviabilidade política de se prejudicar o programa, dado que cerca de um quarto da população é por ele beneficiado.
Enquanto tais percepções obscurecidas pela ideologia ocuparem o lugar de preocupações mais aderentes à realidade brasileira, a discussão continuará superficial, contraproducente e rasteira e não serão exigidas dos representantes políticos as providências que de fato teriam o condão de resolver as carências dos sobreditos grupos – por exemplo, a elaboração de uma estratégia robusta de desenvolvimento, que abordasse de forma integrada as questões urbanas, regionais e nacionais.
Difícil encontrar motivação para algum otimismo, não é?
Vamos chamar o primeiro de classe média. Via de regra, composta por profissionais urbanos, cujo rendimento já permite ter uma moradia confortável e um carro atual, porém também é objeto de maior incidência relativa do imposto de renda e é despendido cada vez mas em saúde, transporte e educação – serviços que o setor público não provê com a qualidade desejada. É compreensível que – premido pelo trânsito, pela rotina de trabalho desgastante e pela onerosa tributação – esse grupo se veja frustrado.
O segundo grupo pode ser assinalado como ascendente. Como visto no post anterior, os 70% que auferem os menores rendimentos perceberam aumentos acima da média, de 2004 a 2012. Contudo, ainda que tenha ganhado participação, esse grupo ainda ganha menos que a média nacional, que já não é muita coisa – cerca de R$ 1.437 mensais, em moeda de 2012. Evidente que é percebida a melhora no padrão de vida. Ocorre, entretanto, que esse grupo pôde vislumbrar e almejar um patamar de consumo mais elevado, que – ao mesmo tempo – torna-se mais próximo e permanece ainda fora de alcance. É natural que – ainda penalizado pelo transporte público de má qualidade, por longos deslocamentos da casa ao trabalho e pelo acesso precário ao atendimento médico e à educação – esse segundo grupo também se sinta frustrado.
Em um campo onde a frustração é abundante, não raro frutificam as neuroses sociais, a exemplo das ditas ideologias, como mecanismos de defesa. Contudo, as ideologias e outras neuroses turvam a análise da realidade social e nos distanciam de uma solução que satisfaça as necessidades frustradas, conforme descrito em ‘Understanding Ideology’ de W. F. Morris:
Ao prejudicar o diagnóstico da causa da frustração, a ideologia impede que ela seja endereçada e – muitas vezes – resulta em comportamento agressivo incapaz de servir qualquer propósito, como também sugere o sobredito autor:
Dois exemplos vêm à mente. Um é a raiva demonstrada por aqueles que tentam associar a corrupção – endêmica ao país – a um único partido, o que é mais recorrente entre os que subscrevem às ideologias de direita. No entanto, isso implica ignorar – por exemplo – que, no seio da CPI do tão mencionado ‘Petrolão’, PT e PSDB escolhem quem investigar, abrem mão da quebra de sigilo bancário e fiscal, de maneira bastante conveniente para ambos os lados.
Outro é a tentativa de pintar o PSDB como exterminador do ‘bolsa família’, quando a avaliação mais lúcida aponta para a inviabilidade política de se prejudicar o programa, dado que cerca de um quarto da população é por ele beneficiado.
Enquanto tais percepções obscurecidas pela ideologia ocuparem o lugar de preocupações mais aderentes à realidade brasileira, a discussão continuará superficial, contraproducente e rasteira e não serão exigidas dos representantes políticos as providências que de fato teriam o condão de resolver as carências dos sobreditos grupos – por exemplo, a elaboração de uma estratégia robusta de desenvolvimento, que abordasse de forma integrada as questões urbanas, regionais e nacionais.
Difícil encontrar motivação para algum otimismo, não é?
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