
Insatisfeito com as práticas capciosas do Goldman Sachs, o executivo sênior Greg Smith pediu demissão no dia 14/03/2012 e abiu mão de um salário anual de R$ 8,6 milhões. No dia de sua saída do banco de investimento, Smith expôs seus motivos em uma carta aberta enviada ao NY Times:
“Over the last 12 months I have seen five different managing directors refer to their own clients as “muppets,” sometimes over internal e-mail.”
Em resumo, Smith relata que a prática do Goldman Sachs tem sido ignorar o interesse dos clientes e simplesmente induzi-los a realizar aplicações favoráveis ao Banco. O total desrespeito em relação aos clientes fica patente no relato de que diretores a eles se referem como “muppets” (marionetes), inclusive em e-mails de circulação interna.
Na data da publicação da carta, as ações do Goldman caíram 3,4% na bolsa de NY, o que representou uma perda em torno de R$ 3,7 bilhões. Como era esperado, a área de relações públicas do banco respondeu à carta de maneira obtusa, sem negar frontalmente as acusações. A resposta apenas citava uma pesquisa de opinião e destacava que 89% dos funcionários da firma dizia prestar um serviço excepcional aos clientes. Contudo, o aspecto relevante não seria a opinião dos clientes em relação aos serviços prestados pelo banco?
Greg Smith não foi o primeiro a apontar as práticas mal intencionadas dos bancos de investimento. O mesmo Goldman Sachs foi condenado em 2010 pela U.S. Securities and Exchange Commission (SEC) a pagar multa de US$ 550 milhões, devido a fraude na estruturação e venda de papéis cujo rendimento dependia de hipotecas com elevado risco de crédito (subprime). O banco vendia os chamados collateralized debt obligation (CDO) a seus clientes, sem revelar que quem compôs o portifólio a eles associado estava apostando na redução do seu valor. Em específico, o Goldman sabia que o mesmo fundo Paulson & Co, que se beneficiaria com a queda do preço dos CDOs, ajudou a compô-los. Isso incentivou o Paulson &Co a escolher os derivativos com a maior probabilidade de inadimplência, para que os CDOs de fato se desvalorizassem. E foi o que ocorreu, Goldman e Paulson ganharam dinheiro a custa dos clientes, que sofreram prejuízos ao comprar papéis que logo seriam classificados como lixo tóxico no ativo das instituições financeiras. Desse modo, o evento constitui uma situação em que os clientes foram de fato tratados como marionetes, induzidos a comprar ativos financeiros que só trariam ganhos ao próprio Goldman Sachs. Infelizmente, o problema não está circunscrito a apenas um banco, também foram condenados por operações semelhantes o Citigroup e o JP Morgan, entre outros.
O desligamento de Greg Smith sugere que pouca coisa mudou nas práticas comerciais dos bancos de investimentos desde as condenações. Contudo, o impacto de sua carta deve forçar os altos executivos das instituições a pelo menos refletir sobre seus modus operandi, pois, nas próprias palavras de Smith, sem clientes o Banco não ganhará dinheiro e sequer existirá:
"Without clients you will not make money. In fact, you will not exist. Weed out the morally bankrupt people, no matter how much money they make for the firm."
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